terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Everybody lies ... (Todo mundo mente ...)


HOUSE, M.D.

É uma série muito diferente do tradicionalmente observado no cenário do show televisivo.
Gregory House é um médico infectologista e nefrologista, especializado em diagnóstico investigativo (o que é diferente de pesquisador, teremos um "post" sobre isto em breve ... ou não), mas sua maior característica talvez seja o total desprezo pelo pré-estabelecido, protocolos, opiniões alheias e principalmente por crenças e versões dos próprios pacientes.

O ceticismo é uma vertente predominante em suas abordagens e claro, isto faz com que ele não seja muito bem quisto. Aliado a isto, ele desenvolveu uma arrogância própria dos que enxergam muito além do óbvio. É viciado em analgésicos devido a uma lesão na perna que foi demonstrada em temporadas passadas e que lhe custou a esposa ...
Gregory House baseia toda sua abordagem diagnóstica em epidemiologia, infectologia e diagnose do perfil psicológico do paciente. Nunca acredita no que o paciente diz, pelo simples motivo de uma constatação óbvia a que todos nós podemos chegar: Todo muito mente ... o tempo todo.

Como ele trata na maioria das vezes de doenças infecciosas ou genéticas, os fatores sexuais, familiares ou de natureza epidemiológica digamos assim, constrangedora, influenciam até mesmo a "verdade" absoluta da relação "Médico x Paciente" tão propagada como sagrada na medicina ... mas que na verdade não é.

Gregory House sequer conversa com os pacientes na maioria dos casos (ao menos no início da abordagem dos casos, pois segundo ele são os sintomas e exames que têm que falar e não o paciente) ...

Claro, a série não é destas inocentes e irreais a ponto de acertar o diagnóstico em inferências especulativas como vemos em "E.R." (conhecida no Brasil por "Plantão Médico) ou em qualquer Pronto-Socorro perto da sua casa ...
A descoberta do diagnóstico só vem com muito custo e muitos erros (desconstrução dos conceitos pré-estabelecidos, um dos elementos básicos do método socrático, muito utilizado por Gregory House), sem contar que quando os pacientes chegam até House já estão, como diriam alguns ... desenganados (nunca entendi esta expressão ... afinal estão enganados ou não estão enganados? Melhor deixar pra lá ...), o que adiciona o caráter de emergência aos casos (vida ou morte em razão de uma tomada de decisão errada).

O que então tem House (a série) de especial?
Primeiro: Não é "politicamente correta" (só isso já a faz merecer o "Emmy").
Segundo: Explora relacionamentos humanos como quase nenhuma outra coisa (livro, filme, série, novela, sei lá ...) que eu tenha visto ou ouvido falar nos últimos tempos ...
Terceiro: É contundente com os erros e necessidades humanas ...
Quarto: A abordagem da análise utilizando o método socrático.

Gregory House é um anti-herói ... Chega aos bons resultados ... mas, nem sempre às boas notícias ... Mostra a imperfeição ... Coloca o dedo na ferida ... E no fim, mostra mais os seus próprios defeitos do que os de quem tenta mostrar ...

No fim ... É um Sherlock Homes do diagnóstico médico ... Embora nem um, nem outro, façam seus trabalhos pensando em prol do interessado no caso, mas sim em satisfazer seus próprios egos .. suas próprias curiosidades ... E quem disse que a vida não é assim?
Ceticismo é a palavra chave ... Afinal, se tirarmos as ilusões e as pequenas, contínuas e leves mentiras sobre as quais se constrõem a natureza humana, seu arquétipo de sociedade, suas crenças, pilares e estruturas sociais, igualmente ilusórias ... o que resta? Muito pouca coisa ...

E essa é a vida que resta ao iluminado, cético e "desenganado" (ao menos no meu conceito de enganação) do pobre Gregory House ...

Talvez por isso todos temos necessidade de mentir em conjunto, enquanto sociedade, numa alienação feliz e entorpecente ... Na nuvem de torpor que chamamos de felicidade ...

É ... talvez tudo isso explique por que "Everybody lies" ...

Por esta e outras ... HOUSE, M.D. vale cada segundo dispensado em assistí-la ... Bom divertimento ...

Be happy ... always!!!



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