quarta-feira, 24 de março de 2010

O Julgamento do Caso Isabela Nardoni

Sinceramente, deixei de ter opinião sobre o caso da morte da menina Isabela Nardoni já há algum tempo. Não sei, e para falar a verdade não me importa mais, se o pai e madastra são culpados ou inocentes. Apenas estou muito incomodado com a quantidade de "especialistas" na mídia e fora dela, acusando, julgando e condenando. Nenhuma destas pessoas teria esta prerrogativa, mas o fazem.


Acredito que ninguém nunca saberá a real verdade sobre o caso, mas tenho quase certeza que o casal será condenado, pois já entraram em um julgamento no qual os jurados já tinham sua opinião sobre o assunto, devidamente manipulada e espetacularizada pela mídia. Para a imprensa não passa de mais uma "matéria", mais uma oportunidade de capitalizar em cima da tragédia alheia. A carinha de pena e consternação que vemos nos âncoras e repórteres televisivos, as palavras pesadas e justiceiras que lemos nos jornais e revistas, tudo isso não passa de "mais do mesmo", apenas mais uma oportunidade, o assunto do dia, da semana ou do mês. (Edit: O que não quer dizer, para os que não entenderam a mensagem, que os réus não sejam, ou melhor, não possam ser culpados. Na verdade é bem provável que sejam, mas isto não cabe à imprensa, nem a mim ou você leitor, decidir).


O que de melhor foi escrito, em todo este tempo, sobre este assunto vocês podem ler abaixo nas palavras de quem esteve no olho do furacão, pois aqui as transcrevo:



A Vida dos outros - por Guilherme Fiuza



04 de Abril de 2008   
A vida dos outros

É difícil escrever sobre uma tragédia sem ser acusado de insensibilidade com a dor alheia.
Talvez a saída mais segura seja falar da nossa própria. No dia 2 de julho de 1990 meu primeiro filho, Pedro, caiu do oitavo andar do prédio onde morávamos, em Botafogo. Desci de escada achando que seria mais veloz do que o elevador, talvez do que a própria queda. Encontrei-o já morto, e não precisava ser médico para constatar.

Os ferimentos eram brutais. Voltei com ele de elevador, mas ainda com pressa, agora de dizer à mãe dele que não podíamos fazer mais nada. Antes que pudéssemos entender o que fazer da nossa própria vida, já tínhamos uma certeza: não podíamos sair de casa. Estávamos presos lá, com dois policiais militares armados na porta do apartamento. Antes de poder enterrar meu filho, tive que contratar um advogado. Recebi-o no quarto de empregada, para poupar a mãe do Pedro, minha ex-mulher, daquela conversa surrealista.

Embora vivêssemos em harmonia e fôssemos particularmente tranqüilos, o advogado vinha relatar depoimentos comprometedores do síndico e de vizinhos à polícia. Eles diziam ter ouvido ruídos altos de portas batendo, discussões febris, gritaria. Foi longo o tempo até encerrar esse processo insano e provar que os vizinhos tinham delirado. Mas foi muito rápido, instantâneo, o castigo imposto pelos homens da lei, de mãos dadas com os vizinhos diligentes: Ser tratado como suspeito da morte do próprio filho.

Quando a Polícia Militar nos permitiu deixar o apartamento, no qual nunca mais voltaríamos a morar, tivemos que deitar no chão do carro, para evitar a multidão de repórteres, fotógrafos e cinegrafistas. Escapamos de passar pelo que passou a mãe de Isabella Nardoni, quase jogada no chão pela sanha da imprensa. Uma mãe de quem a vida acabara de arrancar uma filha, que portanto mal se punha de pé por si mesma…Bem, colegas, morram de vergonha. No Espírito Santo, há outro pai preso porque a filha caiu da janela. São todas situações sobre as quais é preciso encontrar a verdade. Se os pais forem desgraçadamente culpados, precisam ser exemplarmente punidos.

Nada disso dá direito à sociedade de invadir a vida de uma família com a sua curiosidade mórbida e a sua estupidez. Se não é possível à coletividade imaginar na sua própria pele o ardor da tragédia, já seria um belo avanço civilizatório se ela entendesse, de uma vez por todas, que a vida (dos outros) não é um Big Brother.


Guilherme Fiuza - Jornalista, é autor de "Meu nome não é Johnny", livro que deu origem ao filme. Escreveu também o livro "3000 Dias no Bunker", reportagem sobre a equipe que combateu a inflação no Brasil. Em política, foi editor de "O Globo" e assinou em "NoMínimo", um dos dez blogs mais lidos nessa área. http://www.guilhermefiuza.com.br/


Pensem nisso and be happy, always  (se puderem) ... Um abraço a todos, José Robson.


EDIT (Pós-Post): 27/03/2010 - Com o veredito (previsível) de culpados para os réus, a opinião do autor não muda em nada. Sendo culpados (e só agora, após um julgamento, alguém pode mencionar esta palavra) que paguem pelo crime que cometeram, com todo o rigor da lei. Independente da condenação, a atitude dos que pré-julgaram, e causaram este estardalhaço midiático e popularesco todo, não se justifica e tampouco foi correta só por que o desfecho do caso foi pela condenação dos, agora, criminosos. Suspeitos têm que ser tratados como suspeitos, criminosos como criminosos. Está é a base do nosso sistema de justiça. Qualquer coisa além disso é a aplicação do "terra sem lei", "terra de ninguém", o popular "samba-do-crioulo-doido", onde todos os direitos constitucionais de qualquer cidadão podem ser jogados no lixo sem a menor cerimônia, principalmente pela "mídia popular" que adora povoar as tardes televisivas e os tablóides sensacionalistas que insistem em serem chamados de "jornais". (Por José Robson Venturim)

Um comentário:

Bruno Moraes disse...

Olá José, coincidentemente postei no meu blog recentemente um pequeno artigo sobre o caso da Isabella, e me identifiquei em parte com o seu post, de fato há muitas especulações a cerca do fato, mas clamamos por justiça.

http://www.juspoliticando.blogspot.com